Cultura não tem preço, mas...

Leonardo Da Vinci nunca esteve tão badalado no Brasil quando nos dois últimos anos, com o estouro do livro de Dan Brown, O código Da Vinci, que se transformou num arraso de bilheteria no ano passado. O filme estrelado por um grande nome hollywoodiano: Tom Hanks e uma série de ótimos atores europeus de circuitos internacionais: Paul Bettany, Sir Ian McKellen, Jean Reno e Audrey Tautou. A EXPOSIÇÃO “LEONARDO DA VINCI - A EXIBIÇÃO DE UM GÊNIO”, desde 8 de Agosto na Casa França Brasil é competente em mostrar que a vida de Leonardo foi muito além do quadro mais visto do mundo Mona Lisa (La Gioconda; La Joconde). É possível ver rapidamente os feitos de Da Vinci como pintor, filósofo, cientista, arquiteto, engenheiro, anatomista e inventor, ou seja, o título honroso da exposição é justificado. O que não se justifica é o preço cobrado para tal. A entrada custa 30 Reais.

Faltou um link entre demais artistas, filósofos, matemáticos, cientistas, arquitetos, engenheiros, anatomistas e inventores do mesmo período de Leonardo, o Renascimento. Como: Michelangelo, Mantegna, Botticelli, Rafael. Tendo em mente que a razão da exposição é Leonardo Da Vinci parece desfundamentado comentar sobre outros gênios, mas não é. Um apanhado de links para a compreensão do movimento seria mais eficaz para crianças de ensino fundamental captarem a importância do que estavam vendo. Dos avanços da arquitetura, da literatura no conceito histórico de reforma e contra-reforma.

Observei por um longo tempo o comportamento de crianças diante da professora que os explicava e foi triste verificar como o filme sobre as obras de Da Vinci prejudicou a imagem do artista e em nada esclareceu a sua importância.

Outro link que não falta, mas é feito de forma pouco esclarecedora e interativa, é a distância cronológica das criações até a compreensão da importância delas.

Claro que não me esqueço: A mostra não tem caráter nacional, mas seria fundamental, que no Brasil houvesse uma democratização cultural. Não me propus a escrever sobre a exposição em si, mas sobre a relação preço-benefício no nosso contexto Sócio Cultural. Para saber mais sobre a exposição eu recomendaria o texto do Correio do Brasil, pelo endereço: http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=123679

Fiquei na casa França Brasil por 2 horas e meia. Depois fui ao Centro Cultura Banco do Brasil, prestigiar a exposição REtalhar e comparecer no estande do térreo do CCBB, onde você encontra filmes raros, cds de qualidade e igualmente raros, livros de diversas vertentes artísticas e de literatura. Seria ótimo não ter gastado tanto dinheiro na casa França Brasil, poderia ter comprado um livro pelo mesmo preço sobre Leonardo Da Vinci.

PS.

II edição da mostra "REtalhar", em exposição até o dia 16 de setembro, no CCBB (RJ):

Peças artesanais criadas por estilistas e designers e artistas plásticos para a execução das artesãs do Coopa-Roca.

Cerca de cem mulheres da rocinha criam peças voltadas para o mercado de moda e design
A curadoria é de Maria Teresa Leal (responsável pela criação e desenvolvimento do Coopa-Rocca) e Cláudio Magalhães

Receita de leitura para ir bem na profissão de jornalismo:
1 Livro por mês (ao menos)
2 Jornais por dia (ao menos)
2 revistas semanais
2 revistas mensais (ao menos)


Ok. ok certo?! isso é fácil...

Para um prato perfeito, junte a os ingredientes da leitura com:

Fazer a Janta
Lavar a louça
Assistir filmes em cartaz
Alugar filmes antigos
Debater com os amigos/conhecidos sobre os temas da atualidade
Ver os Telejornais
Ouvir rádio de notícias
Manter a Sanidade
Antenar-se com o que está fazendo parte da cultura (música-shows, exposições, Palestras...)
Fazer a cama
Verificar o serviço da diarista
Guardar roupas passadas
Separar roupas sujas
Estar bem vestida e apresentável
Ir ao: Dentista, dermatologista, ginecologista.
Comer
Tomar café
Navegar pela Internet - sites instrutivos (Orkut e/ou fotolog não contam)
...
Manter a sanidade novamente
Assistir aulas da faculdade: Ler os textos, tirar dúvidas, ser atento às aulas
Procurar estágio.
Fazer cursos extracurriculares
...
Manter a Sanidade
Caso não ache um estágio faça acontecer:
monte um portfólio com suas especialidades
Escreva Free lance para um jornal de bairro, jornal da faculdade
Mande carta ao Leitor para um jornal ou revista
Participe de concursos
...
ok, pode excluir a sanidade.

As Palavras da Maria

Maria.

Sentou-se à mesa, frente a um bloco de papel, uma xícara de café, passou seus dedos suavemente pelo mármore da mesa até suas opções para a escrita. Dedilhou sobre lápis, pentel, diversas canetas, stabilo. Enfim escolheu seu nanquim. Uma caneta de nanquim descartável. Descartável como a carta que ela estava prestes a escrever, entre outras coisas.

“Pai, gostaria que você soubesse como eu senti falta de nossa casa todos esses anos que estou longe, e são muitos...”

Maria nunca tinha escrito para o seu pai, ela tinha a sua própria ordem, mas agora precisava dizer coisas a ele.

“não sei até que ponto eu deveria me revelar. Isso parece mera conseqüência de não saber exatamente o que revelar. Por isso, creio, preciso retornar à você. Não sei se me indisponho com a minha natureza ou se renego meus antecedentes”

Seu pai não entenderia nada disso, pensaria que nessa moda da cidade grande, sua filha iria lhe revelar ser uma moça... daquelas, sabe? Que saem com outras moças. Não são somente amigas.

“algumas vezes tudo que tenho aqui não é bastante, opções em demasia distorcem o que realmente eu queria e começo a me perguntar: O que eu realmente queria era o que eu queria? Ou o que o senhor gostaria?”

Definitivamente, no calor do norte ao ler essas palavras passaria a mão na testa já suada e quase se conformaria com a enfermidade do mundo moderno que sua filha Maria aceitará como dela e agora tava era arrumando um jeitinho de dizer isso com meia dúzia de palavras bem arranjadas.

“sou uma menina do interior, criada pela tv e quer ser totalmente cosmopolita. Por mais que eu tente não chegarei aonde gostaria, sou exonerada dos grupos que tento fazer parte, tenho amigos espalhados por aí, algumas vezes me tratam como se fosse eu merecedora de piedade.”

Nada do que seu pai pensará era verdade. A folha se virou nas muitas palavras que Maria escrevia, e o nanquim marcando o verso da folha. As palavras iam além das citações neste texto.

“Sinto falta dos tempos em que corria num vestido rodado e o achava lindo. Hoje sei o quanto ele era péssimo, mal acabado, de mau gosto. Era o gosto da mamãe.”

Uma longa pausa foi feita por Maria, quase mumificada olhando a folha de papel. Nada prestava, nada era capaz de expor o que ela queria. Gerava um bloqueio, estava péssimo e ela sabia disso, uma desordem de palavras, que a Maria de vestido rodado achava lindo, cheio de palavras como falavam as mocinhas das novelas. Pegou subitamente de volta sua caneta descartável de nanquim.

“Sinto-me obrigada a escrever-lhe papai, sinto-me desesperada, entristecida, perdida....”

Palavras pobres, pobres, pobres, não proclamavam o que ela queria. Imcapaz de expressar seus sentimentos.

"Não sei se originalmente nunca tive talento para pôr meus pensamentos em palavras , ou se o que está acontecendo comigo é apenas uma avalanche de sentimentos tão pobres quanto as palavras."

Lançou então para longe aquela caneta tão descartável quando ela. Uma droga, uma merda igual a ela. Uma farsa, uma mentira.

Amassou, então, a folha de papel... tomou o seu café. Acendeu um cigarro. Ergueu a cabeça. Ajeitou sua calça de linho. Olhou seu sapato de pelica. E seguiu em frente, forjando ser aquilo. O Que ela acreditava querer ser.